quinta-feira, 31 de março de 2011

O que está acontecendo? O que será que aconteceu? Eu vejo a menina ali, parada, estagnada com os olhos muito brilhantes... O dedo do meio e o indicador na boca, como se estivesse contendo algo, algo preso ali dentro daquela mente. Fico olhando, mas ela parece tão só! Tão a mercê de algo... Tão dependente. Ela começa a contrair o lábio inferior, passa a língua lentamente no superior (será uma lágrima presa ali?), um suspiro e a boca treme - que vontade de abraçá-la! Uma lágrima desce do olho direito. Passa pela olheira, molha sua buchecha e seca próximo ao queixo. Ela sussurra algo... Palavras de conforto à si própria talvez? Diria que sim... Passa a mão rapidamente pela bochecha, como que para secar algo, mas os ventos já secaram por ela. No que a menina está pensando? Ela tem uma tristeza tão grande no olhar que até o mínimo conhecedor poderia reparar. Parece estranhamente constrangida. Passa a mão pelo cabelo, queixo e olha ao redor. Olha para onde estou mas não me vê. O que aconteceu com ela? Qual a mágoa? Quem a feriu desse modo? Ela volta a visão e pára em mim - sim, em mim, mero observador. Eu não consigo desviar os olhos. Seus olhos têm algo... São olhos bonitos, meio dourados, pequenos. Reparo bem na sua feição: susto, dúvida, fúria, tristeza. Ah, tristeza de novo? Eu queria tanto ver esses lábios sorrindo, se abrindo! Não só contraindo. Mas de uma forma absurda ela é linda. Carrega um mistério. Dá a sensação que nem mesmo ela se conhece; de que ela tenta, mas não conhece. Talvez esteja assim por isso: pela falta do auto-conhecimento? Não duvido. Eu mesma passo por isso. Ela olha de novo para mim. Outra lágrima desce pelo seu olho. Ela levanta sua mão, como se fosse tocar em algo... E encosta na minha. Que está levantada, como se fosse tocar em algo. Susto, dúvida, fúria, tristeza. Passam pela sua feição. Passam pela minha feição. Ela não é "ela", ela é "eu".

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